Mudar o Chip

 O pior de uma crise de resultados é não saber o que é que é preciso mudar para colocar uma equipa no rumo das boas exibições e das vitórias. O plantel tem qualidade. Sim, tem lacunas, mas é de longe o plantel mais capaz a competir em Portugal. A equipa técnica é boa. Sigo o JJ desde os tempos que treinava o Belenenses e não me lembro de uma equipa dele que não praticasse bom futebol (tirando este ano claro). Então o que se passa? No início da época ganhava-se, mas a qualidade de jogo não impressionava e ia piorando de jogo para jogo. Mesmo assim ganhava-se. A defesa dava provas de não estar à altura do desafio, situação agravada com a saída do Rúben e com a lesão do André Almeida. "O Benfica para ganhar o jogo tem de marcar 2/3 golos, pois é certo que vai sofrer pelo menos um" dizia-se e o Benfica lá marcava os 2/3 golos. A defesa começou a acertar e aí o problema passou a ser o meio campo que logo de seguida contagiou o ataque. Chegou a altura da primeira decisão da época: a Supertaça. O Benfica fez a pior exibição que me lembro de ver contra o Porto, a par do jogo dos 5-0. A diferença é que o Porto dos 5-0 era uma super equipa e este Porto é banal e está falido. Volvidas umas semanas dá-se o jogo no dragão e o JJ dá, pela primeira vez desde o regresso, um banho tático ao adversário. Mesmo assim o resultado foi um empate. Injusto poderá afirmar-se, mas o futebol é mesmo assim. O Benfica já aí era uma equipa bastante fragilizada emocionalmente o que ajuda a explicar a incapacidade em materializar a sua superioridade. Apesar do empate senti que tinha sido aí o jogo da mudança de chip! Nas plataformas sociais (onde em tempos de pandemia se vive o clube) os adeptos mostravam-se esperançosos numa recuperação da equipa. Finalmente fizemos um jogo à Benfica! Mas desta feita a pandemia fez das suas. Grande parte dos jogadores e equipa técnica infetados com covid de uma só assentada mesmo na véspera da final four da Taça da Liga. A galvanização logo deu lugar ao desalento. O Benfica defrontou o Braga, fez um jogo de coragem mas não bastou. Voltaram os jogos da Liga e era altura de defrontar o Nacional. O Benfica apelou para adiar o jogo, a Liga não interveio e os clubes não chegaram a acordo. Apesar das ausências a equipa do Benfica era de longe superior a este Nacional e a entrada em jogo até prometeu, mas o dissabor chegou na 2ª parte. O resto é o que se sabe e o Benfica vai-se arrastando nesta situação..    

O Benfica é bairrista e os adeptos do Benfica são bairristas. Esta distância que há entre adeptos e clube neste momento prejudica sobretudo o Benfica, mais do que outro clube qualquer. Quantas vezes a equipa atravessou momentos menos bons e a força para ultrapassar tais momentos veio das nossas bancadas?


Lembro-me de há dois anos atrás... o famoso ano da reconquista. Lembro-me do Benfica-Rio Ave e da estreia de Lage (na altura treinador interino, enquanto não se arranjava outro). Jogo que tinha tudo para correr mal e no qual acabou por correr tudo bem. O Benfica rapidamente se viu a perder por 0-2 e o desalento era evidente. Mas do fundo das nossas forças lá nos unimos e virámos o resultado para um 4-2 de forma brilhante e a jogar de forma que até então não se tinha visto na época. Foi o jogo da mudança de chip. A partir daí a equipa arrancou para uma 2ª volta de campeonato formidável. Fomos o Benfica dos 103 golos marcados, feito que não se via desde os tempos de Eusébio. Viveu-se aí uma união sem precedentes, união que neste momento faz tanta falta. 

O sentimento é de impotência. Estamos em casa, não podemos sair e ir viver o Benfica com o Benfica. Que saudades eu tenho de comer uma bifana à porta do estádio e viver o benfiquismo com os benfiquistas.


Em momentos menos bons, valores mais altos se levantam e esse valor, em termos desportivos, é o Sport Lisboa e Benfica! Viva o Benfica!



Comentários

Mais vistas